Sabe aquela sensação de vazio?
Sinto um vazio enorme dentro de mim... Depois de pairar o dia e um
rompante de gula, cá estou eu, agora, escrevendo. Esperança de que isso sirva
de cobertura possível, pelo menos, por um breve momento.
When I was a child I had a
fever
My hands felt just like two balloons
My hands felt just like two balloons
Now I've got that feeling
once again
I can't explain, you would not understand
This is not how I am
I have become comfortably numb
I can't explain, you would not understand
This is not how I am
I have become comfortably numb
(Comfortably Numb – Pink Floyd)
Decidi pesquisar no Google o que isso significa. Sou dessas. Digito “sinto
um vazio enorme dentro de mim” e clico na lupa. Aproximadamente 511.000
resultados. Já me sinto mais humana agora.
O Yahoo Answers foi top de lista. Não fui ver o que é que tinha lá. A
opinião da galera tem seu valor, eu sei, mas aquelas... quando você acha que
seu problema é sério, quer uma opinião especializada, até mesmo para não se
confundir com o tanto de coisa que todo mundo diz!
Bom, os especialistas dizem que o vazio existe, sempre esteve lá. É que a
gente o acoberta com alguma coisa. Mas toda cobertura é provisória e quando ela
não satisfaz ou não se sustenta mais, o vazio aparece. Bem psicanalítico isso!
Também acho que seja por aí mesmo. Não faço tantas coisas assim que me
oprimem. Na verdade, hoje tenho tempo livre e a chance de fazer mais coisas que
gosto. Mas o vazio está bem aqui, comigo, agora, me endoidecendo de
não-sei-lá-o-quê! Quanto mais tempo tenho para fazer o que gosto, menos coisas
eu faço. Essa equação é sem jeito!
Ok, ok. Procurando encaminhamentos. Mais um clique.
Cuidado! A gente se horroriza com a sensação de
vazio e logo queremos lançar mão de qualquer coisa para preenchê-la. Sim, o
sentimento do vazio pode ser bem desesperador e, geralmente, fazemos escolhas
péssimas e exageradas na busca de uma satisfação imediata. Amores
insuficientes, gula insana e embriaguez são alguns preenchimentos provisórios e
precisamos pesar bem a relação custo-benefício antes de lançar mão deles. Algumas escolhas trazem sequelas profundas,
quando não alargam ainda mais a sensação de vazio. Nessas horas, dizer “não” é
estado de equilíbrio.
Bom, para quem ainda não encontrou uma coisa bacana para preencher o seu
vazio, mesmo que de maneira momentânea: coragem, não desista! Sim, é autorizado
ter lugar para você mesmo em sua vida. Tem uma turma que aposta que esse horror
que temos frente à sensação de vazio possa ser convertido em ato criativo.
Seria essa a saída dos artistas e das pessoas que se destacam na humanidade ou em
sua comunidade por seus feitos e ideais. Hoje, reconhecemos os grandes clássicos
da música, os mais inspirados poemas e as mais belas pinturas, mas tem mais,
muito mais! Quem fez aquelas maravilhosas luzes roxas no cabelo da sexagenária
ou o grafite surreal no muro do vizinho? E olha que muita gente ainda não
conhece o delicioso bolo de fubá com goiaba da minha tia.
Se alguém tiver botando reparo aqui, avise quando eu chegar lá!
Cris Couto, 10/08/2016
Sou Cris Couto: mulher, negra mãe e
escritora.
Publico no blog Flor do Dia: Coletivo do Bonde às quartas-feiras
Gostou? Leia outros textos meus em:
https://www.facebook.com/criscouto1010/
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