Quando somos pequenos, todas as nossas ações tem a ver com
os nossos pais. Se minha mãe não deixa eu sair de casa, eu não saio. Eu me
lembro que, na minha infância, o terreno onde morávamos nem tinha portão. Uma
menina da vizinhança veio me chamar pra brincar lá fora. Eu não queria ir.
Então respondi: “a minha mãe não deixa”. A menina insistiu, eu repeti que minha
mãe não deixava. Ela perguntou onde estava a minha mãe. Eu respondi que dentro
de casa. Ela: “então vamos, sua mãe não tá vendo”. Eu, muito séria, respondi: “minha
mãe não tá vendo, mas Deus tá”.
Faz parte da infância a sensação de segurança por estarmos
sendo direcionados. Se minha mãe deixa, eu estou devidamente autorizada. Caso
contrário, não faço. Na adolescência, preferia insistir até ela dizer que
deixa. E eu não sabia na época, mas era minha forma de me sentir segura com as
decisões que eu ainda não dava conta completamente de tomar.
Minha mãe morreu. Meu pai morreu. Estou por mim.
E agora? O que é que eu “deixo?” O que permito a mim? A
maior parte das pessoas que eu conheço nunca toma decisões. Ou as evita o
máximo que dá. Não larga o emprego que não gosta, porque tem muitas contas pra
pagar. Não tem escolha. Não larga a pessoa que já não ama porque tem uma
história de longa data, e/ou filhos que supostamente dependem dessa relação.
Não tem escolha. Não faz o que realmente quer porque não tem dinheiro. Ou
tempo. Não tem escolha.
É confortável não ter escolha. Quem não tem escolha,
não é responsável. Vive ao sabor das fatalidades que lhe acontecem.
Acho que a lição mais importante do mundo adulto é essa: A
gente tem escolha. Sempre. Perceber, identificar as escolhas nos permite o
protagonismo. Jesus já dizia: “Ninguém tira a minha vida. EU DOU”.
Sair da voz passiva. Entrar na voz ativa. Assumir a decisão.
Aprender a dizer NÃO. Posicionar-se. Coisa de quem tem coragem. Coisa de quem
confia em si mesmo pra bancar o preço. Coisa de quem tem brilho nos olhos.
Gente preciosa os adultos que deram conta de crescer.
Entrar na voz ativa é que são elas... para os fortes. Beijos.
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