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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Nossa geração toda enlouqueceu

Estava conversando com meu sobrinho sobre a minha geração. Eu nasci em 1977.
Nossa geração tá retrocedendo tudo o que nossos pais e avós loucamente conquistaram. Tem corrido aos saltos em direção a um abismo de intransigência, intolerância, violência e injustiça.
Tudo isso é verdade. Mas...
O que vou dizer agora não justifica nada, mas explica. Acredito que nunca, na história da humanidade, houve uma geração mais exigida do que a nossa, em termos de adaptação.
Somos a geração da independência: quando nascemos, as teorias de educação diziam aos nossos pais que eles deveriam estimular as crianças a serem independentes desde muito cedo. Nosso universo emocional foi todo construído nessa linha. Quando éramos crianças, quem tinha um telefone em casa era rico. Brincamos em ruas sem asfalto. TV demorou pra chegar na nossa infância, era uma TV preto-e-branco com um seletor de canais circular, que girava, e que quando a gente desligava, ele ficava com um ponto prateado no meio da tela até esfriar. Não se podia ficar o dia inteiro vendo desenho, porque eletricidade também era caro e não tinha o tempo todo.
Um dia, nos disseram que chegaria um dia em que cada pessoa teria o seu próprio telefone. E nós gargalhamos. Para que raios teríamos necessidade de um telefone para cada um?
E o espanto que foi quando apareceu o BIP? Aquele aparelhinho que escrevia e passava recados?
Outro dia tentei explicar pros meus alunos que o termo "caiu a ficha" vem de uns orelhões antigos que funcionavam com uma ficha que nós colocávamos na parte de cima do aparelho, e a ligação só completava quando a ficha descia.
Depois nos assombramos com a Internet discada, responsável por muito quebra pau de família: seu irmão queria usar o telefone enquanto você conhecia as salas de bate-papo, mas você precisava fechar  tudo pra ele poder usar o telefone...
Nascemos num mundo, crescemos em outro, vivemos agora em outro...
Nossa geração não conheceu a permanência. Somos líquidos.
Eu acho que muitos de nós sonham com o mundo familiar dos nossos avós... Onde tudo era certo, conhecido, permanente...
Então eu pedi a meu sobrinho... que a geração dele consiga nos salvar de nós mesmos, seres tão infantis e inseguros...

2 comentários:

  1. Concordo com você, somos a geração geração que sofre muita adaptações em pouco tempo.

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  2. A unica coisa que me faz preferir a adaptação ao retrocesso, pela minha perspectiva das coisas muitas vozes eram sufocadas para que tudo parecesse lindo e florido. Sou da geração que apesar da das dores prefiro a revolução o desconhecido a luta e o 'Deus nos acuda'. Mas sim as vezes da saudade daquele domingo em Família,mães na cozinha a promessa de comidas saborosas, pais na varanda e muitas risadas e conversas enigmáticas , primos em todo o quintal, gritaria, pega pega e o famoso , Manhêêê fulano pegou meu brinquedo! Dói sim!

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